Como surgem as doenças na visão da psicanálise?
Obviamente existem condições genéticas de saúde que podem ocasionar doenças congênitas desde o nascimento da pessoa.
Contudo a grande maioria é adquirida ou desenvolvida ao longo da vida, normalmente provocada pela condição de vida e hábitos não saudáveis. O mesmo raciocínio é utilizado pela psicanálise.
Freud conhecido como o fundador da psicanálise, uma das grandes teorias da psicologia, é até hoje utilizada em diversas clínicas e consultórios, propôs o estudo da motivação humana. O que nos motiva ou nos impulsiona para sermos como somos? Como seriam esses impulsos ou motivações? Será que somos plenamente conscientes deles ou não?
Para responder a essas e outras questões Freud se dedicou a criar a teoria psicanalítica acreditando que havia motivações tanto inconscientes quanto conscientes. Da mesma forma acreditava que a energia ou pulsão era produzida ao longo do nosso desenvolvimento, dividindo nosso desenvolvimento em fases.
Nos primeiros seis anos (primeira infância) ocorre as três primeiras fases: oral (boca), anal (anus), fálica (penis). Em cada uma dessas fases a busca pelo prazer e a satisfação ocorria nesses respectivos órgãos. No boca pela alimentação, no anus pelo controle, e o penis com o início da descoberta de sua identidade, dando inicio a fase de latência, que o conduz a identificação sexual, orientação sexual e ao desenvolvimento de padrões morais. Entrando finalmente na última fase conhecida como fase genital aos 12 anos, dando início por interesses sexuais maduros.
Porém essa energia poderia ser fluida de modo normal a depender do recebimento e atendimento das nossas necessidades durante cada uma das fases, ou gerar frustração, decorrente do não atendimento satisfatório gerando angustias e ansiedade.
Juntamente com o nosso desenvolvimento passamos a compreender que não estamos sozinhos, que existe um outro que nos alimenta e que atende as nossas necessidades. Além disso nossas descobertas que visam tão somente satisfazer nossos prazeres passam a ser mediados por outros processos psicológicos decorrentes da diferenciação do princípio do prazer e o princípio da realidade, denominado EGO, criando assim pequenos conflitos internos ou conflitos psíquicos que comandam ou retem a energia das pulsões, pois nesse momento a criança pode não possuir a maturidade emocional para lidar com esse conflito. Com o seu desenvolvimento outro mecanismo surge o SUPEREGO, que tem como função ser uma instância crítica e punitiva ao EGO, atuando como função de consciência moral e formações de ideais, decorrente dos valores morais obtidos pela sociedade.
Sabemos também que quanto mais emocionalmente evoluída é a pessoa, maior será a sua capacidade para administrar os próprios problemas e maior flexibilidade interna ela terá para ajustar-se às mudanças que ocorrem durante a vida tanto nas esferas físicas, intelectual, social quando na esfera emocional.
Como já abordamos no post anterior Como melhorar a desigualdade social no desenvolvimento das crianças? e Parentalidade - Como ajudar o seu filho a ter sucesso se uma criança é estimulada, querida, e bem tratada pelos pais seguramente ela vai desenvolver a sua auto-estima muito melhor e de uma maneira muito mais adequada e satisfatória do que uma criança maltratada e rejeitada em seu ambiente familiar.
Contudo, mesmo tendo recebido amor e cuidados necessários e ter tido suas necessidades atendidas, criam-se tensões internas pois a princípio os pais não sabem se o bebe está com fome, se esta sujo ou se tem algo o incomodando, fazendo com que o bebe sempre passe por frustrações. Em decorrência dessas frustrações, angústia e culpa a criança passa a desenvolver mecanismos de defesa, mas a energia gasta no desenvolvimento desses mecanismos de defesa poderiam ter sido utilizadas para atividades mais eficientes do EGO, e quanto mais mecanismos de defesa criado ao se defrontar com novas crises ou conflitos no seu desenvolvimento, maior chance de utilizar dos mesmos mecanismos de defesa anteriormente criados, regredindo àquele ponto anterior do seu desenvolvimento (ex. chupar dedo, dormir encolhido, etc.).
Portanto regressão é o movimento de retrocesso da libido aos pontos de fixação desenvolvidos durante o processo de desenvolvimento psicosexual, em torno do qual se organizam as estruturas psicopatológicas como as neuroses e psicoses.
A literatura psicanalítica já apresentou uma correlação entre a regressão das fases e sintomas em crianças, adolescentes e adultos:
A regressão da fase oral nas crianças é representada por chupar o dedo, aos adolescentes pelas bulimia, anorexia, obesidade, uso de drogas, enquanto que nos adultos pode causar obesidade, hipocondria, piscossomatizações, etc.
A regressão da fase anal nas crianças é representada pelo medo, tiques, traços sádicos, enquanto adolescentes indecisão, sadismo, masoquismo, traços obsessivos e enquanto adultos: perfeccionismo, sadismo, fobias e neuroses obssessiva.
A regressão da fase fálica na crianças é representada pela dispraxia, dislexia, hiperatividade, nos adolescentes como traços conversivos e nos adultos impotência sexual, frigidez, tonturas, paralisais.
Logo a regressão e os sintomas acima mencionados estão atrelados a problemas no desequilíbrio da energia ou pulsão durante o desenvolvimento da pessoa, frisando-se que quanto menos fortalecida emocionalmente é a pessoa, maior será o seu nível de ansiedade e menor será o seu poder de ajustamento e adaptação à realidade e, consequentemente, maiores então os prejuízos à sua personalidade.
Aos emocionalmente imaturos cabem, justamente, as reações extremadas frente às situações de maior tensão, pois tanto podem ficar paralisados, inertes e até deprimidos ao terem que enfrentar momentos que lhes geram maior ansiedade quanto podem ter reações violentas, abruptas, desesperadas e de muita agressividade frente a elas.
Assim os desejos insatisfeitos, os sentimentos, as mágoas, as tristezas, a raiva, as emoções....que foram sendo levadas ao inconsciente do sujeito vão aos poucos retornando a sua consciência de uma maneira disfarçada e distorcida através de sintomas corporais, mais connhecidos como doenças.
Afadiga, o desânimo ou até uma certa apatia são seguramente os sintomas mais comuns e os mais leves que evidenciam a existência de uma sobrecarga emocional, física ou intelectual.
Referências Bibliográficas
O desenvolvimento da pessoa da infância à terceira idade. Kathleen Stassen Berger LTC 5 edição, 2016.
Conflitos Intrapsiquicos. Sonia Del Nero. Vetor Editora 2003
Psicologia do Ajustamento. maria Lucia Hannas, Ana Eugenia Ferrira, Marysa Saboya. Editora Vozes, 6 edição 1983